No dia 26 de maio, celebra-se o “Dia do Drácula”, em homenagem ao dia da publicação do romance de vampiro mais icônico da história da literatura, que ocorreu no ano de 1897.
Desde então, um milhão de derivados e adaptações da história de Bram Stoker já foram feitas, nas mais diversas mídias, oficial e não oficialmente, com diferentes graus de fidelidade à obra original (filmes famosos incluem Nosferatu, em suas três versões: 1922/1979/2024; e o Drácula de Bram Stoker, de 1992, dirigido por Francis Coppola).
Pessoalmente, minha versão alternativa preferida do conde é a franquia Castlevania, originalmente uma série de jogos eletrônicos de plataforma, da japonesa Konami, mas que expandiu sua popularidade em anos recentes graças à série animada de mesmo nome da Netflix, que adapta o roteiro de alguns dos jogos mais famosos da franquia.
Nos videogames de Castlevania, o jogador assume o papel de um herdeiro da família Belmont, caçadora de vampiros e outros demônios, que precisa lidar, a cada punhado de décadas, com o ressurgimento do castelo do Conde Drácula.
Talvez o que eu vá dizer agora só faça sentido para quem também escreve, mas a série animada de Castlevania causa em mim um profundo sentimento de ciúmes e de inveja profissional. O que eu quero dizer com isso? Bem, eu amo a série. Acho o roteiro incrível, o desenvolvimento de personagens impecável, a construção de mundo absolutamente perfeita. E eu amo tanto, mas tanto, que o que eu sinto é um desejo genuíno de ter sido eu a responsável por escrever essa perfeição. Vide, os ciúmes e a inveja.
São vários os detalhes da construção de mundo que colaboram para deixar esse universo fascinante em toda sua glória gótica, mas um detalhe que eu acho que agrega muito é o fato de que os principais vampiros da história são derivados de outras figuras literárias, é claro, mas também históricas.
Sigam aqui comigo para explorarmos essas referências!
Drácula
Começando, é claro, por ele, a inspiração original da franquia inteira. O icônico Conde Drácula e seu castelo nos ermos da Transilvânia são o ponto de partida de toda a história de Castlevania, tanto nos jogos, quanto na animação.
O mais interessante é que o próprio Bram Stoker se baseou em uma figura histórica para criar o vampirão: Vlad III Tepes, o Empalador.

Vlad Tepes foi governante da Valáquia entre 1448 e 1477, e é frequentemente considerado um dos governantes mais importantes da história do território, bem como um herói nacional da Romênia. Sua crueldade é atestada em diversos relatos históricos, e o apelido “empalador” vem de seu método preferido de execução de inimigos.
Varney
Um dos personagens mais enigmáticos da quarta temporada da animação, o nome “Varney” traz uma referência literária muito importante.
Sir Francis Varney fez seu debut literário em uma narrativa seriada intitulada Varney, o Vampiro; ou, o Banquete de Sangue [temos uma edição brasileira de 2021 pelo Sebo Clepsidra!], escrita por James Malcolm Rymer e Thomas Peckett, e publicada entre 1845 e 1847. A série – que se estendeu por impressionantes 232 capítulos e 876 páginas – foi um sucesso dos penny dreadfuls, os famosos folhetins vitorianos, que publicavam histórias por capítulos, cobrando preços baixos e acessíveis à população de classes mais baixas.
Apesar de menos notória nos dias de hoje, Varney, o Vampiro foi responsável por definir tropos importantes para o gênero “história de vampiro”, sendo, por exemplo, a primeira obra a estabelecer que vampiros tinham presas para morder suas vítimas.
Carmilla
A grande vilã da terceira e da quarta temporadas, icônica e absolutamente maravilhosa, Carmilla tem sua inspiração na vampira de mesmo nome do escritor irlandês Sheridan Le Fanu. Publicada em 1872, Carmilla é uma novela no melhor estilo gótico vitoriano, que nos apresenta a primeira vampira feminina da literatura, mais de vinte anos antes do lançamento de Drácula.
Se você já me acompanha há algum tempo em redes sociais, já deve ter me visto rasgando elogios para esse livro que, sinceramente, considero infinitamente superior a Drácula enquanto uma história de vampiro – sendo muito menos (nada) sutil em seus subtons homoeróticos e dependendo menos dos motivos religiosos e moralistas para resolver seus enredos.
Lenore
Uma das companheiras de Carmilla na animação, a referência aqui é menos explícita, e talvez apenas uma homenagem mais ampla, mas nada me tira da cabeça que o nome da personagem vem do poema, de 1843, de Edgar Allan Poe, que trata da jovem Lenore e sua morte prematura (perfeita candidata à vampira, sim).
“See! on yon drear and rigid bier low lies thy love, Lenore!
Come! let the burial rite be read- the funeral song be sung!-
An anthem for the queenliest dead that ever died so young-
A dirge for her the doubly dead in that she died so young.”
Em tradução livre:
Vê! Naquele esquife sombrio e rígido jaz teu amor, Lenore!
Vem! Deixe o rito funeral ser lido – a canção funerária ser cantada! –
Um hino para a mais régia morta que jamais morreu tão jovem –
Um canto fúnebre para ela, duplamente morta, tendo partido tão nova.
Erzsebet Báthory
A grande vilã do spin-off Castlevania: Noturno, Báthory não é, como os outros vampiros desta lista, uma referência literária, mas sim histórica, embora sua vida seja digna das páginas de um horror gótico.
Erzsebet (ou Elizabeth) Báthory foi uma nobre húngara que viveu entre 1560 e 1614, e é acusada de ser uma das assassinas em série mais prolíficas da história. De acordo com as acusações contra ela, ela torturou e matou centenas de empregadas em sua casa. Supostamente, mais de 300 pessoas afirmam ter visto evidências de seus crimes, espalhando a notícia de que ela beberia ou se banharia no sangue de suas vítimas para manter sua beleza e aparência jovem. Após a sua prisão e condenação, ela passou os últimos anos da sua vida numa torre do Castelo de Csejte.
Mais recentemente, contudo, historiadores vem questionando se Báthory foi mesmo uma assassina. Parece um pouco estranho que em 1600, 300 pessoas pudessem atestar sua culpa. Existem também teorias de que sua religião ou status de mulher solteira rica poderiam ter levado às acusações e às conspirações, e que na verdade ela não teria cometido nenhum crime.
De um jeito ou de outro, ela vive eternamente como vampira no imaginário coletivo, e no universo de Castlevania.
Trilhando caminhos...
Se quiser me ouvir falando (literalmente) mais de Castlevania, participei de um podcast bem legal em 2021, que você encontra aqui: Geração M, #44.
Aos amantes de música e mitologia, continuo reagindo às músicas do EPIC: the musical! Os vídeos chegam primeiro no TikTok, mas também estão aos poucos indo para o Instagram.
Preciso ler Carmilla! Aliás, lendo sua newsletter (sempre maravilhosas, diga-se de passagem), me lembrei de nós duas no ensino médio lendo "Vampire Knight" <3